segunda-feira, novembro 12, 2012

O Pai de um Movimento Cultural chamado Hip-Hop...


1973..., EUA, Bronx River Projects...
                                           
Em meio à violência desenfreada das gangues de rua por território para a promoção da venda de drogas, “Kevin Donovan”, era líder da “Black Spades”, creditada como a mais perigosa de todas, decide dar um basta às mortes em seu bairro, após a morte de um membro muito querido de sua turma. Ele tinha apenas 16 anos de idade. Mas, essa decisão não partiu de uma hora para outra, devido à perda de um membro de sua gangue, pois, pela ordem natural dos fatos, a lógica seria um revide sangrento à gangue rival...

Mesmo integrado à Black Spades, o jovem Donovan, além de estar cursando o nível médio, era um privilegiado, já que sua mãe e tio eram ativitas do movimento pelos direitos civis, sendo nutrido durante a infância pelos debates promovidos por organizações libertárias, isto sem falar do extenso acervo de livros e informações contidos em sua casa graças aos seus tutores. Deste modo, apesar de estar exposto ao trágico cenário de caos do bairro, Kevin Donovan nunca se esquecera destes ensinamentos e, ao assistir no cinema o clássico de Cy Endfield, “Zulu” (1964) – que traz a história real de cerca de uma centena de soldados britânicos, que enfrentaram 4000 dos mais poderosos guerreiros das nações Zulus, para defender Rorkes Drift, em 1879 –este jovem despertou em seu íntimo o desejo de fazer algo para modificar positivamente o Bronx. 
 Foi então que, ao conquistar o primeiro lugar no concurso de redação da escola, que o premiou com uma viagem à África, Kevin Donovan teve a oportunidade de conhecer de perto algumas comunidades e suas formas de organização baseadas na solidariedade e no respeito ao próximo. Ao retornar deste importante passeio, ele decide se batizar em homenagem ao continente que visitara com nome “Afrika”, adicionando como segundo nome “Bhambatha”, do chefe zulu Bambatha kaMancinza – responsável por liderar uma resistência armada contra as práticas desleais econômicas provocadas pela Europa no início do século 20 na África do Sul, sendo visto como o precursor do movimento antiapartheid no país – e forma inicialmente a  “Bronx River Organization”, utilizada para reabilitar os membros da Black Spades. Com a introdução das “Block Parties” (festas de rua), a grande novidade trazida à vizinhança pelo DJ jamaicano “Kool Herc”, apoiada pelo parceiro “Kool DJ Dee”, Afrika Bambaataa percebe que as pessoas de bem passaram a frequentar novamente as ruas e que os muitos talentos existentes no gueto (grafiteiros, dançarinos e improvisadores de rimas) se concentravam nessas reuniões populares. Surge então o desejo de se trabalhar festas da mesma temática, só que adotando o termo “Hip-Hop” – expressão muito comum entre os jovens da época, popularizado pelos MCs em suas rimas improvisadas e por profissionais como o “DJ Hollywood”, em sua série de brados durante os sets de mixagens para entreter o público. Bambaataa percebe também que teria de criar algo ainda maior que a Bronx River Organization para alcançar outras gangues e reabilitá-las pela pacificação plena dos guetos nova-iorquinos. Naquele mesmo período muitos DJs dão suas contribuições para o engrandecimento deste trabalho, como foi o caso do DJ Grand "Master" Flash, que juntamente com Bambaataa e Herc divulgaram esta grande iniciativa pelos quatro cantos do Bronx... 

Bambatha kaMancinza à direita

Eis que surge então em 12 de novembro de 1973 a “Universal Zulu Nation”, organização não governamental que tem como lema “Paz, Unidade, Amor e Diversão (com responsabilidade)”.  Estabelecendo sua sede no endereço 1520 da Sedgwick Avenue, onde funcionava a Escola Secundária Adlai Stevenson – diga-se de passagem, imóvel adquirido pela família de Kool Herc –, Bambaataa inicia um trabalho mais abrangente para o resgate dos ex-membros de gangues utilizando os elementos culturais originários da vizinhança, a fim de que estes jovens não mais retornem às drogas e à violência das ruas. Mas nem tudo foi tão fácil como aparentava ser...


Afrika Bambaataa, Grand Master Flash e Kool Herc: a Trindade Divina do Hip-Hop

Block Party de Kool Herc (Equipe Herculords) em um boulevard no Bronx...

1974..., EUA, Bronx River Projects..., Mês de Novembro...

Era inverno e muitos ex-membros estão sem dinheiro. O único jeito para muitos é apelar novamente para a vida do crime...

Preocupado com este lamentável fato, Bambaataa propôs uma reunião com estes jovens, com o intuito de que se fosse gerado com seus talentos uma política de autossustentabilidade, a fim de o crime e as drogas se tornassem coisas do passado. Sendo assim, aproveitando o termo mais comum entre os jovens do gueto, em 12 de novembro de 1974 Afrika Bambaataa declara fundado o “Movimento Cultural Hip-Hop”, com base nos ensinamentos pregados pela Universal Zulu Nation: “Conhecimento, Sabedoria, Compreensão, Liberdade, Justiça, Igualdade, Paz, União, Amor, Diversão (com Responsabilidade), Trabalho, Fé e as maravilhas de Deus”. O termo que outrora se traduzia ao pé da letra “Hip” (quadril) “Hop” (saltar) dando sentido a uma simples dança, desencadeou a ideia de não se permanecer ancorado no mesmo lugar, dando motivação ao ser humano de sair do ostracismo em busca dos seus objetivos, ou seja, movimentar-se sempre! 
Universal Zulu Nation Hoje...

Atualmente a Universal Zulu Nation está representada em quase todo o globo, inclusive aqui no Brasil, onde nosso Ministro-chefe, “King Nino Brown”, em 1994 fundou a “Zulu Nation Brasil”, com sua sede no município de Diadema, na Região do Grande ABC de São Paulo e afiliações em vários estados brasileiros como Bahia, Rio de Janeiro, Pará, Ceará e até em Portugal e no Uruguai mais recentemente. 

Afrika Bambaataa e King Nino Brown

Em todo o mundo a Universal Zulu Nation tem como compromisso pregar a boa palavra do Hip-Hop, organizando muitos shows e arrecadando fundos para campanhas Antiapartheid, visando uma sociedade mais justa e acessível a todas as raças. =E importante destacar ainda que, em 2010, Afrika Bambaataa fora indicado ao Prêmio Nobel da Paz por pacificar por quase duas décadas o bairro do Bronx através da proposta pregada pelo Hip-Hop...

Infelizmente, devido à falta de Conhecimento a respeito da Cultura Hip-Hop, muitos de nossos jovens, em todo o mundo, cometem o erro em pensar que, atividades como a dependência de drogas em geral, portar armas ou frequentar boates de nudismo, são “Hip-Hop”. Assim, o Hip-Hop tem sido retratado negativamente por muitos artistas que fazem “Rap”. Esta negatividade é normalmente instigada e promovida pela indústria fonográfica e por várias outras entidades, que exploram nossa Cultura (hip-hop) à custa do estado de consciência da juventude e da moralidade. Deste modo, a “Universal Zulu Nation”, legitimada como a primeira organização de Hip-Hop do mundo, nos ensina que há uma diferença entre manifestar-se livremente a respeito da negatividade (ativismo) e promover isto como desejável estilo de vida. Expressões como “gangstas, pimps, husthers, niggas, spics e playas”, entre outras palavras, que, uma vez foram utilizadas nos EUA contra o crescimento do verdadeiro Hip-Hop, hoje fazem parte do nosso vocabulário diário em todos os cantos do planeta, inclusive aqui no Brasil. 

É importante que se deixe claro, que, a intenção da UZN perante as demais organizações de Hip-Hop é dar suporte de Conhecimento (5º Elemento do Hip-Hop) entre outros atributos logísticos, para que o Hip-Hop possa ser compreendido em sua forma original e difundido com o devido respeito a Deus (acima de tudo), à família, às culturas e costumes locais e à sociedade na qual se vive...

Vida Longa à Universal Zulu Nation!

Vida Longa à Afrika Bambaataa!

Vida Longa à King Nino Brown!

Que Deus abençoe os Guerreiros Zulus de todo o Planeta Terra!

Paz e Respeito eternos a todos os irmãos Hip-Hoppers!


DJ “Zulu” TR.

Saiba mais...

www.zulunation.com