terça-feira, maio 01, 2012

Vasco RoveraLL – O embaixador do “C. Walk” no Brasil...

Ele tem apenas 23 anos e com tão pouca idade, pode estar carregando a nobre responsabilidade de ser o pioneiro do “C.Walk” no Brasil...

Surgido no início dos anos 70 em Los Angeles, mais precisamente no bairro de Compton, entre membros da “Crip”, uma das gangues de rua mais perigosas da região, o C. Walk herdou em sua identidade o nome desta organização – “Crip Walk” – ganhando mais popularidade durante os anos 90 graças ao sucesso de rappers oriundos dessas localidades, tornando-se também posteriormente um estilo a compor o quadro das danças urbanas relacionadas ao Hip-Hop.

Com sua coreografia baseada em movimentos bruscos com os pés e manobras no ritmo da música, o C. Walk se mantém em sua originalidade no estilo, desbravando pouco a pouco as ruas de todo o planeta.

No Brasil, muito embora grande parte dos b. boys o tenha caracterizado em sua coreografia, o C. Walk, não aparentava ter sua existência declarada oficialmente como dança distinta. Deste modo, este jovem dançarino, natural de Londrina, buscou em 2007 resgatar o lado conceitual dessa dança urbana na intenção de que seus praticantes tivessem conhecimento pleno a respeito. Seu nome, Vasco Perez Giufrida, mais conhecido entre os c. walkers como “Vasco RoveraLL”. Igualmente ao Breaking em São Paulo durante os anos 80, Roveral introduziu o estilo nas comunidades pobres de sua cidade causando adesão maciça entre os jovens, desconstruindo a ideia criada pelas gangues da Costa Oeste americana e acentuando assim o sentido social de seu trabalho.

Você agora está convidado a entender melhor sobre esta dança que gradativamente vem ganhando seu espaço no país entre os dançarinos das ruas sob as bênçãos de Vasco RoveraLL...


DJ TR.

1) DJ TR – Primeiro vamos entender algumas questões importantes. O nome “Roveral” tem a ver exatamente com o quê?
RoveraLL – Esse nome começou em 2003 com um grupo de Skatistas, a Rover* Crew, com o passar do tempo, além do skate, também estávamos envolvidos com o Hip-Hop de forma geral, daí que surgiu a ideia de colocar o all* (tudo) no final do nome do grupo. Resumindo “RoveraLL” é o nome/marca que criamos para caracterizar e levantar o estilo de vida que seguimos (Artes Urbanas – Cultura de Rua).

2) DJ TR – Como se deu seu primeiro contato com o “C. Walk”? Você já era b. boy?
RoveraLL – Nem eu mesmo consigo explicar direito como foi meu primeiro contato com o C. Walk... (risos). Eu estava em uma festa (começo de 2006) entre amigos da Rover Crew, quando de repente comecei a arriscar “passinhos” de dança em cima de uma batida de West Coast... , quando percebi que meu amigo Guim* também ariscava os mesmos movimentos e ficamos em  choque (risos), nem sabíamos que ali já era o início do nosso C. Walk... Foi ai que o “Duel”, um tatuador membro da gangue “Crip”, que estava de passagem na minha cidade, inserido no Hip-Hop local, mostrou muito material sobre a Cultura Gangsta juntamente com o C. Walk... Até aí, eu nem sabia o que era C. Walk... Eu e meus amigos da Antiga *Casa do Hip-Hop de Londrina, começamos a nos interessar por esta cultura e a praticar na rua o Clown e o Crown Walk, variações do Crip Walk... tendo de base apenas o que conhecemos através do Duel, pois na época  a internet era coisa de outro mundo, e o “You Tube” era algo desconhecido. Nunca fui dançarino, fiz aulas ou treinei para trabalhar com a dança. Foi algo que veio, digamos “do nada” (risos).

3) DJ TR – Por que  esse fascínio pelo “C. Walk”, o que de fato lhe trouxe a convicção de investir neste tipo dança?
RoveraLL – “C. Walk” é minha expressão, sempre fiz por amar muito esse estilo. Eu investi nele para mostrar para todos essa dança, e que no Brasil também tem C. Walk.

4) DJ TR – Segundo sua própria história, o “C. Walk” era utilizado pelos membros das gangues para reconhecer outros membros, e muitas vezes para insultar a área do adversário. Isso ainda acontece nos EUA? Existe também acontecendo nos EUA trabalhos sociais com o C. Walk, avessos à postura negativa das gangues?
RoveraLLNão só nos EUA, mas em diversos lugares do mundo a gangue Crip existe e está vinculada diretamente com o crime de forma geral. Eu estudo e sempre me mantenho atualizado sobre o C. Walk do mundo inteiro e não tenho conhecimento de trabalhos sociais com essa dança.

5) DJ TR – Segundo também a história das gangues da Costa Oeste americana, a principal facção rival aos “Crips” (identificados pela cor azul em sua vestimenta) são os “Bloods” (identificados pela cor vermelha). Quanto aos Bloods, eles também possuem algum tipo de dança como forma de rito para manifestar suas regras?
RoveraLL – Sim os Bloods possuem o “B. Walk” (Blood Walk) similar ao C. Walk,  porém, com menor número de variações e não se popularizou tanto assim.

6) DJ TR – E por falar em ritos, que tipo de música embala a prática do “C. Walk”? E quanto aqui no Brasil, existe alguma trilha nacional para a prática do “C. Walk”?
RoveraLL – Inicialmente, os praticantes de C. Walk usavam o Gangsta Rap para dançar, principalmente o de Los Angeles. Atualmente o C. Walk é praticado em todos estilos de Rap que existe. Quanto à trilha sonora nacional, é pouquíssimo usada, pois o Rap Nacional tem como característica instrumentais mais “suaves”  e o C. Walk combina mais com batidas Agressivas.
RoveraLL e alunos

7) DJ TR – Há  5 anos você desenvolve socialmente pela Prefeitura de Londrina o “C. Walk” entre crianças e adolescentes de 06 a 14 anos, oriundas de comunidades pobres. Como tem sido essa experiência? Algum fato interessante que você queira destacar sobre esse trabalho com estes jovens?
RoveraLL – Essa experiência tem sido a melhor possível, é muito gratificante praticar o bem com algo que se ama, juntar a *dança com a mudança*! Faço tudo que posso para melhorar e colocar algo a mais na vida das crianças que estão comigo. Acredito muito no potencial que o Hip-Hop tem de mudar visões e colocar autoestima e confiança em cada um que se envolve com ele. Atualmente criei um grupo chamado “UDV Crew”, envolvendo crianças que queiram dar sequência aos trabalhos com o C. Walk, para apoiar e manter viva a esperança que elas enxergam na dança. Têm muitas histórias de alunos que, se eu fosse contar aqui, ficaria um ano escrevendo (risos)..., mas é triste ver que já fiz muitos trabalhos para conseguir patrocínio para as crianças dançarem pelo menos calçadas com algum tênis (algo que pra maioria é um sonho) e muitas vezes não consegui uma resposta positiva.

8) DJ TR – É prematuro creditarmos Londrina como a capital do “C. Walk” no Brasil?
RoveraLL –  Bom , Londrina abraçou o C. Walk , foi a primeira cidade do Brasil a ter cursos, projetos sociais, interesse de universidades e mídia, pesquisas, entre outros... Em Londrina, mudamos um pouco a visão que a maioria tinha do C. Walk e inovamos nacionalmente esse estilo de várias formas..., tanto na criação de movimentos/passos novos, como na forma de agir, não sendo mais copia* do C. Walk gringo, diferenciando e criando nossa identidade. No Brasil, mais especificamente em São Paulo capital, o C. Walk também está bem representado... Salve “BS”!!!

9) DJ TR – Como principal difusor do “C. Walk” no país, certamente você não está ilhado nessa proposta. Existem outras crews de “C. Walk” no Brasil? Você também mantém contato com outros c. walkers no exterior?
RoveraLL – Sim,  no Brasil existem algumas crews de C. Walk . Mantenho contato direto com o C. Walk de outros países, fechando conexões (vídeos) e trocando atualizações.

10) DJ TR – E quanto ao Hip-Hop no Brasil, como tem sido a aceitação do “C. Walk” pelo Movimento?
RoveraLL –  A aceitação está sendo muito boa, porém falta muito investimento...

11) DJ TR – Você já expôs seu trabalho em programas formadores de opinião como o “Manos e Minas” (TV Cultura – SP), “Paraná TV” (TV Globo), garoto-propaganda do “BonuzEditz” (principal canal de promoção do C. Walk via internet) e da grife “Jonny Size”, do cantor Falcão (O Rappa) e o pioneiro na introdução do “C. Walk” na “YAK films”, principal canal de divulgação internacional das danças urbanas. Com todo este currículo admirável, o que se faz necessário para que o “C. Walk” obtenha notabilidade nacional e haja a adesão maior de praticantes?
RoveraLL – A mídia Nacional de fato não deu ainda a devida importância ao C. Walk...

12) DJ TR – Algum projeto para o futuro?
RoveraLL – Da necessidade do C. Walk Nacional crescer percebi a oportunidade de criar uma marca especificamente para nosso público, oferecendo futuramente batalhas nacionais, propagandas para todas as mídias, eventos e apresentações de uma forma que aumente o número de praticantes no Brasil: a RoverWalk* em processo de criação e tema da Pós-graduação que estou terminando. Lançar RoverWalk no mercado,  patrocinar e dar oportunidades a mais pessoas que queiram viver de C. Walk.

13) DJ TR – Um conselho para o jovem dançarino que está ingressando sua carreira no “C. Walk”...
RoveraLL – Acredite no seu potencial, faça por amor que os resultados serão os melhores!

14) DJ TR – Alguma consideração final?
RoveraLL – Mando um salve para minhas duas crews “REDFOOT Crew”: Psico, Guim, Negro A,  T-chon, Negro Gangsta..., e salve “RW Crew”: Dark, KNP e Fazolo.

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