sábado, outubro 08, 2011

Zulu Nation Rio e APAFunk – Um novo tempo apesar dos perigos...


 MC Leonardo e DJ TR

Talvez esta seja a primeira vez na história em que, duas grandes entidades representantes dos Movimentos Populares de maior aglutinação de jovens – que antes apresentavam divergências ideológicas entre si –, se reúnem para discutir ações pertinentes ao mesmo público. De um lado a “Zulu Nation – Rio de Janeiro”, entidade carioca representante da “Universal Zulu Nation de Nova York” (organização internacional criada por Afrika Bambaataa em 1973, que 1 ano após a sua fundação se tornou o nascedouro da Cultura Hip-Hop); de outro a “APAFunk – Associação dos Profissionais e Amigos do Funk”, fundada pelo “MC Leonardo” no intuito de apoiar os direitos e deveres dos artistas do Funk Carioca...

 

Enquanto muitos irmãos do Hip-Hop ainda resistem em manter relações amistosas com membros do Funk Carioca, a Zulu Nation Rio rompeu a barreira do preconceito e de forma idônea, nesta 4ª feira (05/10/11), foi à sede da  APAFunk, para discutir assuntos concernentes ao bem comum de ambos os movimentos.

 

Muito cordial e receptivo ao nosso grupo, Leonardo apresentou os avanços que sua organização tem obtido nas estâncias políticas e na conscientização de seus artistas quanto ao mercado de trabalho e conduta social.

 

O “DJ Claysoul”, conhecido de Leonardo há alguns anos, aproveitou a oportunidade para esclarecer algumas razões que levaram os zulus a estarem ali... “Quando eu tocava na Furacão, cheguei a acreditar que o novo Funk poderia trazer às comunidades a voz da consciência, só que isso não fazia parte da proposta dos donos das equipes, e foi então que decidi (no auge da minha carreira) me retirar desse projeto... No Hip-Hop não está sendo diferente, pois existe o lado midiático que atrapalha a real informação sobre o Movimento. Hoje, temos a Zulu Nation aqui no Rio, que luta pela conscientização da massa acerca do Hip-Hop e a APAFunk, que vem pela mesma via junto aos funkeiros.. Entender que existem erros a serem corrigidos em nossa própria casa e se unir para isso, é de fato o primeiro grande passo em direção ao progresso dos nossos Movimentos”, declara Claysoul, que durante os anos 80-90 foi DJ da equipe Furacão 2000, uma das precursoras do Funk Carioca.   


Da esquerda para a direita: MC Leonardo e os zulus DJ TR, Zezzynho, DJ Claysoul e Bruno Timorato.  

“Eu não entendo até hoje o porquê dos irmãos do Hip-Hop nos excluírem, se o próprio Afrika Bambaataa entendeu que deveríamos nos unir... Os dois lados têm problemas e podemos trabalhar juntos para solucioná-los. E essa parceria que está surgindo com a Zulu Rio é a prova de que podemos tornar isso realmente possível pelo bem das favelas”, diz muito otimista Leonardo, que está inclusive produzindo ao lado de feras como “Rabú Gonzales” coletânea que contará com a participação mutua  de MCs do Funk e Rappers. 

 

Outra iniciativa bem interessante que Leonardo nos apresentou, foi a parceria que já está acontecendo com o professor de Letras pela Universidade Católica do Salvador e ativista político do “Coletivo Blackitude”, “Nelson Maca” e com o rapper e ativista brasiliense “GOG”, onde pretende trazer para os MCs de Funk e todas as favelas cariocas saraus de poesia e literatura em que, tanto o Funk, quanto o Hip-Hop farão parte do instrumento de provocação ao pensar da juventude local.

 

Nota: “Planet Rock”, o grande clássico da Cultura Hip-Hop criado por Afrika Bambaataa em 1982, que deu origem ao “Electrofunk” – estilo de Rap eletrônico  responsável por influenciar o surgimento dos ritmos “Techno” de Detroit, “Miami Bass” de Miami, o “Jazz” mais moderno e o “Dancehall” da Jamaica –, pode ser reconhecido como o avô musical do Funk Carioca, já que suas características remontam nitidamente ao Bass de Miami. Isto sem citar que Planet Rock foi o divisor de águas para o surgimento dos movimentos “Charme”, “Funk Carioca” e o próprio “Hip-Hop” numa época em que o Soul se extinguia no Rio de Janeiro, por conta da decadência do Movimento Black Rio.

 

Muito embora o Funk Carioca aparente possuir todo um império estrutural que possibilite a sua mais confortável sobrevivência, o artista do gênero está fadado a três condições: 

 

a)                  Não possuir certa longevidade em sua carreira;

 

b)                  Não ser detentor (na maioria das vezes) dos seus direitos autorais;


c)                  Estar submisso a proposta midiática dos empresários do Funk Carioca, que por sua vez ditam aquilo que para eles for rentável.  


Tais pontos apresentados por Leonardo com grande conhecimento de causa, formalizou o que também muitas vezes é questionado no Hip-Hop em relação aos nossos artistas. Portanto, temos muito a discutir e a prosseguir juntos neste sinuoso caminho chamado mundo, a fim de que num novo tempo, cantado pelo poeta, apesar dos perigos...

 


A gente se encontre cantando na praça, fazendo pirraça, pelo bem de todos!

 

Lembre-se de que a Senzala é a mesma! 

 

Paz e Respeito a todos!

 

 

DJ “Zulu” TR.